sexta-feira, 31 de outubro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Gozo e dor - Almeida Garrett
Se estou contente, querida,
Com esta imensa ternura
De que me enche o teu amor?
Não. Ai não; falta-me a vida;
Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso de gozo é dor.
Dói-me alma, sim; e a tristeza
Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Absorto em tua beleza,
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.
É que não há ser bastante
Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida ou a razão.
Com esta imensa ternura
De que me enche o teu amor?
Não. Ai não; falta-me a vida;
Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso de gozo é dor.
Dói-me alma, sim; e a tristeza
Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Absorto em tua beleza,
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.
É que não há ser bastante
Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida ou a razão.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Manel cruz
Ornatos Violeta - Dia mau
Nao quis guarda-lo para mim
E com a dimensao da dor
A legitimar o fim
Eu dei
Mas foi para mostrar
Não havendo amor de volta
Nada impede a fonte de secar
Mas tanto pior
E quem sou eu para te ensinar agora
A ver o lado claro de um dia mau
Eu sei
A tua vida foi
Marcada pela dor de nao saber aonde dói
Mas vendo bem
Nao houve à luz do dia
Quem nao tenha provado
O travo amargo da melancolia
E entao rapaz,
Entao porque a raiva se a culpa não é minha
Serão efeitos secundarios da poesia
Mas para que gastar o meu tempo
A ver se aperto a tua mao
Eu tenho andado a pensar em nós
Ja que os teus pés não descolam do chao
Dizes que eu dou só por gostar
Pois vou dar-te a provar
O travo amargo da solidão!
domingo, 26 de outubro de 2008
Hino do Benfica - Luis Piçarra
Sou do Benfica
E isso me envaidece
Tenho a genica
Que a qualquer engrandece
Sou de um clube lutador
Que na luta com fervor
Nunca encontrou rival
Neste nosso Portugal.
Ser Benfiquista
É ter na alma a chama imensa
Que nos conquista
E leva à palma a luz intensa
Do sol que lá no céu
Risonho vem beijar
Com orgulho muito seu
As camisolas berrantes
Que nos campos a vibrar
São papoilas saltitantes.
E isso me envaidece
Tenho a genica
Que a qualquer engrandece
Sou de um clube lutador
Que na luta com fervor
Nunca encontrou rival
Neste nosso Portugal.
Ser Benfiquista
É ter na alma a chama imensa
Que nos conquista
E leva à palma a luz intensa
Do sol que lá no céu
Risonho vem beijar
Com orgulho muito seu
As camisolas berrantes
Que nos campos a vibrar
São papoilas saltitantes.
sábado, 25 de outubro de 2008
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Álvaro de Campos
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Fernando Pessoa
Durmo ou não? Passam juntas em minha alma
Coisas da alma e da vida em confusão,
Nesta mistura atribulada e calma
Em que não sei se durmo ou não.
Sou dois seres e duas consciências
Como dois homens indo braço-dado.
Sonolento revolvo omnisciências,
Turbulentamente estagnado.
Mas, lento, vago, emerjo de meu dois.
Disperto. Enfim: sou um, na realidade.
Espreguiço-me. Estou bem... Porquê depois,
De quê, esta vaga saudade?
Coisas da alma e da vida em confusão,
Nesta mistura atribulada e calma
Em que não sei se durmo ou não.
Sou dois seres e duas consciências
Como dois homens indo braço-dado.
Sonolento revolvo omnisciências,
Turbulentamente estagnado.
Mas, lento, vago, emerjo de meu dois.
Disperto. Enfim: sou um, na realidade.
Espreguiço-me. Estou bem... Porquê depois,
De quê, esta vaga saudade?
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Lovage - Strangers on a Train
(...)
oh, you're very charming Sir
now here's to you
i don't want to know your name
or what you do
i know, here's to strangers on a train
strangers on a train
oh, i think we're going faster
from the mount to the pasture
just look at that scenery
it's lovely
it's lovely
i really like to ride the train
especially when i forget where i'm going
i really like the way it feels
the motion of the wheels
as the raging sparks are flying
from the wounded rails still crying
battling the scenery
it's lovely, it's lovely
it's lovely, it's lovely
(...)
sábado, 18 de outubro de 2008
Poesia - Bertold Brecht
Sente-se.
Está sentado?
Encoste-se tranquilamente na cadeira.
Deve sentir-se bem instalado e descontraído.
Pode fumar.
É importante que me escute com muita atenção.
Ouve-me bem?
Tenho algo a dizer que vai interessá-lo.
Você é um idiota.
Está realmente a escutar-me?
Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção?
Então
Repito: você é um idiota.
Um idiota.
I como Isabel, D como Dinis, outro I como Irene, O como Orlando, T como Teodoro, A como Ana.
Idiota.
Por favor não me interrompa.
Não deve interromper-me.
Você é um idiota.
Não diga nada. Não venha com evasivas.
Você um idiota.
Ponto final.
Aliás não sou o único a dizê-lo.
A senhora sua mãe já o diz há muito tempo.
Você é um idiota.
Pergunte pois aos seus parentes
Se o senhor não é um I.
Claro, não lho dirão
Porque se tornaria vingativo como todos os idiotas.
Mas os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que é um idiota.
(...)
Está sentado?
Encoste-se tranquilamente na cadeira.
Deve sentir-se bem instalado e descontraído.
Pode fumar.
É importante que me escute com muita atenção.
Ouve-me bem?
Tenho algo a dizer que vai interessá-lo.
Você é um idiota.
Está realmente a escutar-me?
Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção?
Então
Repito: você é um idiota.
Um idiota.
I como Isabel, D como Dinis, outro I como Irene, O como Orlando, T como Teodoro, A como Ana.
Idiota.
Por favor não me interrompa.
Não deve interromper-me.
Você é um idiota.
Não diga nada. Não venha com evasivas.
Você um idiota.
Ponto final.
Aliás não sou o único a dizê-lo.
A senhora sua mãe já o diz há muito tempo.
Você é um idiota.
Pergunte pois aos seus parentes
Se o senhor não é um I.
Claro, não lho dirão
Porque se tornaria vingativo como todos os idiotas.
Mas os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que é um idiota.
(...)
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Manel Cruz
Ornatos Violeta - Chaga
foi como entrar
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo
sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar
que ha um fim
eu ja nao sei quem te abracou
diz que eu nao senti
teu corpo sobre o meu
quando eu cair,
eu espero ao menos
que olhes para tras
diz que nao te afastas
de algo que é também teu
nao vai haver um novo amor
tao capaz e tao maior
para mim sera melhor assim
ve como eu quero
eu vou tentar
sem matar o nosso amor
nao achar que o mundo é feito para nós
foi como entrar
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo
sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar
que ha um fim
eu ja nao sei quem te abracou
diz que eu nao senti
teu corpo sobre o meu
quando eu cair,
eu espero ao menos
que olhes para tras
diz que nao te afastas
de algo que é também teu
nao vai haver um novo amor
tao capaz e tao maior
para mim sera melhor assim
ve como eu quero
eu vou tentar
sem matar o nosso amor
nao achar que o mundo é feito para nós
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Alexandre O'Neill
Sei os teus seios.
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?
Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
(...)
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?
Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
(...)
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Florbela Espanca
A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onde está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!
Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?
Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jardim,
Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim...
Onde está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!
Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?
Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jardim,
Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim...
Marco Miroto
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Poesia - José Luís Peixoto
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu, depois, a minha irmã mais velha
casou-se, depois,o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu, depois, a minha irmã mais velha
casou-se, depois,o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Al Berto - Sabes...
sabes
por vezes queria beijar-te
mesmo longe no espaço sei que consentirias
sei que querias
os beijos apagam o desejo
É bom sabermos quanto nos queremos
sem ousarmos sequer tocar nossos corpos
hoje tenho pena por estar longe
tenho pena de não poder percorrer teu corpo
como percorro os mapas
com os dedos teria viajado em ti
do pescoço às mão da boca ao sexo
tenho pena de não poder murmurar teu nome no escuro
acordado
perto de ti as noites seriam de ouro
e as mãos teriam guardado o sabor de teu corpo
ah meu amigo
estou definitivamente só
estou preparado para o grande isolamento da noite
para o eterno anonimato da morte mas perdi o medo
a loucura assola-me
preparo a última viagem às Índias imaginadas
disseram-me que só ali se pode descansar da vida
e da morte
perscruto a razão profunda desta viagem
hesito
Sei que por muito longe que me encontre
se pousares a tua mão sobre a minha testa
senti-lo-ei
esse gesto aliviar-me-á de todas as dores
a manhã aproxima-se cortante
ouço barcos largarem do cais
preparo a lâmina
(...)
por vezes queria beijar-te
mesmo longe no espaço sei que consentirias
sei que querias
os beijos apagam o desejo
É bom sabermos quanto nos queremos
sem ousarmos sequer tocar nossos corpos
hoje tenho pena por estar longe
tenho pena de não poder percorrer teu corpo
como percorro os mapas
com os dedos teria viajado em ti
do pescoço às mão da boca ao sexo
tenho pena de não poder murmurar teu nome no escuro
acordado
perto de ti as noites seriam de ouro
e as mãos teriam guardado o sabor de teu corpo
ah meu amigo
estou definitivamente só
estou preparado para o grande isolamento da noite
para o eterno anonimato da morte mas perdi o medo
a loucura assola-me
preparo a última viagem às Índias imaginadas
disseram-me que só ali se pode descansar da vida
e da morte
perscruto a razão profunda desta viagem
hesito
Sei que por muito longe que me encontre
se pousares a tua mão sobre a minha testa
senti-lo-ei
esse gesto aliviar-me-á de todas as dores
a manhã aproxima-se cortante
ouço barcos largarem do cais
preparo a lâmina
(...)
domingo, 12 de outubro de 2008
Miguel Esteves Cardoso
“Adoro matar animais de todas as espécies.” Era o género de frase que me apaixonava.
Uma vez estávamos a jantar e disseste “Se pudesse, matava um panda.” “Como?” Matava-o com uma pedrada.”
“O que é que tens contra os pandas?”
“Odeio animais amorosos.”
Pensei que estivesses a defender os animais que não têm a sorte de ser giros ou de estar à beira da extinção,
que vivem em condições atrozes, sem serem tema de documentários ingleses ou logotipos de organizações mundiais. Como os frangos.
Pensei que a tua atitude contra os tigres era uma cruzada a favor das ratazanas. Mas enganaste-me.
in "O amor é fodido"
Uma vez estávamos a jantar e disseste “Se pudesse, matava um panda.” “Como?” Matava-o com uma pedrada.”
“O que é que tens contra os pandas?”
“Odeio animais amorosos.”
Pensei que estivesses a defender os animais que não têm a sorte de ser giros ou de estar à beira da extinção,
que vivem em condições atrozes, sem serem tema de documentários ingleses ou logotipos de organizações mundiais. Como os frangos.
Pensei que a tua atitude contra os tigres era uma cruzada a favor das ratazanas. Mas enganaste-me.
in "O amor é fodido"
sábado, 11 de outubro de 2008
Intimidade - Fernando Namora
Que ninguém
hoje me diga nada.
Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao mundo.
Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.
hoje me diga nada.
Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao mundo.
Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Orfeu Rebelde - Miguel Torga
Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
L'Ivrogne - Jacques Brel
(...)
Ami remplis mon verre
Encore un et je vas
Encore un et je vais
Non je ne pleure pas
Je chante et je suis gai
Mais j`ai mal d`être moi
Ami remplis mon verre
Ami remplis mon verre
Buvons à la putain
Qui m`a tordu le cœur
Buvons à plein chagrin
Buvons à pleines pleurs
Et tant pis pour les pleurs
Qui me pleuvent ce soir
Je serai saoul dans une heure
Je serai sans mémoire
Buvons nuit après nuit
Puisque je serai trop laid
Pour la moindre Sylvie
Pour le moindre regret
Buvons puisqu`il est l`heure
Buvons rien que pour boire
Je serai bien dans une heure
Je serai sans espoir
Alberto Caeiro
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!
terça-feira, 7 de outubro de 2008
"Livro do Desassossego"
"Há momentos em que cada pormenor do vulgar me interessa na sua existência própria, e eu tenho por tudo a afeição de saber ler tudo claramente. Então vejo - como Vieira disse que Sousa descrevia – o comum com singularidade, e sou poeta com aquela alma com que a crítica dos gregos formou a idade intelectual da poesia. Mas também há momentos, e um é este que me oprime agora, em que me sinto mais a mim que às coisas externas, e tudo se me converte numa noite de chuva e lama, perdido na solidão de um apeadeiro de desvio, entre dois comboios de terceira classe."
Bernardo Soares
Bernardo Soares
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Poesia - Mário Cesariny
Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
domingo, 5 de outubro de 2008
Bocage - Vós, Crédulos Mortais, Alucinados
Vós, crédulos mortais, alucinados
de sonhos, de quimeras, de aparências
colheis por uso erradas consequências
dos acontecimentos desastrados.
Se à perdição correis precipitados
por cegas, por fogosas, impaciências,
indo a cair, gritais que são violências
de inexoráveis céus, de negros fados.
Se um celeste poder tirano e duro
às vezes extorquisse as liberdades,
que prestava, ó Razão, teu lume puro?
Não forçam corações as divindades,
fado amigo não há nem fado escuro:
fados são as paixões, são as vontades.
de sonhos, de quimeras, de aparências
colheis por uso erradas consequências
dos acontecimentos desastrados.
Se à perdição correis precipitados
por cegas, por fogosas, impaciências,
indo a cair, gritais que são violências
de inexoráveis céus, de negros fados.
Se um celeste poder tirano e duro
às vezes extorquisse as liberdades,
que prestava, ó Razão, teu lume puro?
Não forçam corações as divindades,
fado amigo não há nem fado escuro:
fados são as paixões, são as vontades.
sábado, 4 de outubro de 2008
Poesia - José Gomes Ferreira
Vai-te, Poesia!
Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.
Vai-te, Poesia!
Não quero cantar.
Quero gritar!
Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.
Vai-te, Poesia!
Não quero cantar.
Quero gritar!
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Wolfmother - Pleased to meet you
Everything is in our hand
What a pity, it's so pretty
We can live along ourselves
To succeed let it bleed
Dance along into the sun
All that you know fades away
Onde estás?
"E encostada a mim, oferecendo o corpo como escudo, teve, de súbito, um gesto tão feminino, tão humilde, que, por muito que eu o evitasse, me enterneceu: ela descalçara os sapatos, atirara-os para longe e dissera, apertando-me sempre:
-Assim está mais certo. Fico mais pequenina junto de ti. Do meu verdadeiro tamanho.
Do seu verdadeiro tamanho: uma pobre coisa exposta às ressacas do meu temperamento"
"Domingo à tarde" - Fernando Namora
-Assim está mais certo. Fico mais pequenina junto de ti. Do meu verdadeiro tamanho.
Do seu verdadeiro tamanho: uma pobre coisa exposta às ressacas do meu temperamento"
"Domingo à tarde" - Fernando Namora
Fumo VII - António Lobo Antunes
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
O que será - Chico Buarque & Milton Nascimento (1976)
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores que vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
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