Não caiu sobre mim uma cruz
quando fui comprar cachorros quentes
e o escravo grego da noite
no país prateado do jogo
não acreditou que era seu irmão
Ama-me visto que nada acontece
Creio que a chuva não me vai
fazer sentir como um pluma
depois desta noite chegar
quando os eléctricos param
porque o meu tamanho é definitivo
Ama-me visto que nada acontece
Farás por acaso ideia da quantidade
de filmes que tive que ver
antes de ter a certeza
que era capaz de te amar
quando as luzes se acendessem
Ama-me visto que nada acontece
Eis o cabeçalho do 14 de Julho
na cidade de Montréal
Intervention décisive de Pearson
à la conférence du Commonwealth
mas isso foi ontem
Ama-me visto que nada acontece
Estrelas e estrelas e estrelas
Elas guardam para si mesmas o segredo
Já alguma vez reparaste na privacidade
de uma árvore molhada
uma cortina de lâminas de barbear
Ama-me visto que nada acontece
Porque terei que ficar só
se aquilo que digo é verdade
Confesso que pretendo encontrar
uma passagem ou falsificar um passaporte
ou falar uma nova linguagem
Ama-me visto que nada acontece
Confesso que gostava de deixar crescer
asas e perder a razão
Confesso que já não
me lembro bem para quê
Porquê asas e sem razão
Ama-me visto que nada acontece