sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
José Gomes Ferreira
(Finjo que não vejo as mulheres que passam, mas vejo)
De súbito, o diabinho que me dançava nos olhos,
mal viu a menina atravessar a rua,
saltou num ímpeto de besouro
e despiu-a toda...
E a Que-Sempre-Tanto-Se-Recata
ficou nua, sonambulamente nua,
com um seio de ouro
e outro de prata.
De súbito, o diabinho que me dançava nos olhos,
mal viu a menina atravessar a rua,
saltou num ímpeto de besouro
e despiu-a toda...
E a Que-Sempre-Tanto-Se-Recata
ficou nua, sonambulamente nua,
com um seio de ouro
e outro de prata.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Acerca de estar doente - Virginia Woolf
Considerando como a doença é comum, como é tremenda a mudança espiritual que traz, como é espantoso quando as luzes da saúde se apagam, as regiões por descobrir que se revelam, que extensões desoladas e desertos da alma uma ligeira gripe nos faz ver, que precipícios e relvados pontilhados de flores brilhantes uma pequena subida de temperatura expõe, que antigos e rijos carvalhos são desenraizados em nós pela acção da doença, como nos afundamos no poço da morte e sentimos as águas da aniquilação fecharem-se acima da cabeça e acordamos julgando estar na presença de anjos e harpas quando tiramos um dente, vimos à superfície na cadeira do dentista e confundimos o seu «bocheche... bocheche» com saudação da divindade debruçada no chão do céu para nos dar as boas-vindas - quando pensamos nisto, como tantas vezes somos forçados a pensar, torna-se realmente estranho que a doença não tenha arranjado um lugar, juntamente com o amor, as batalhas e o ciúme, por entre os principais temas da literatura.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
"A idade do Jazz-Band" António Ferro
"A Dança é o jardim das mulheres, a cocaína dos seus corpos, uma cocaína que não foi proibida. As mulheres dançam para não pensar, para que os seus corpos sejam inteligentes em seu lugar... As mulheres têm sempre talento quando dançam... As suas atitudes, nesse momento, são frases, aquelas frases que elas não sabem dizer, mas que realizam... Uma mulher a dançar é uma mulher quieta. As mulheres só estão inquietas quando não dançam... A dança está para a mulher como a mulher está para o homem. O homem não vive tranquilo enquanto não encontra uma mulher. A mulher nao vive tranquila enquanto não encontra um dançarino. As mulheres não amam, dançam... O amor, para as mulheres, é uma dança! Como justificar esta paixão das mulheres pela dança? As mulheres dançam como os homens fumam..."
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
domingo, 15 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Café (XXVII e XXXI)- José Gomes Ferreira
Que temos nós com a primavera?
Não nos sai dos olhos
nem da boca,
mas da terra
que não é nossa.
Primavera para quê?
Malmequeres para quê?
Para a aceitação com perfumes
deste silêncio de fossa?
(...)
Num desespero vão
os olhos circundo
pela Natureza.
Ah! quando perderei a ilusão
de que a minha tristeza
dá sentido ao mundo?
Não nos sai dos olhos
nem da boca,
mas da terra
que não é nossa.
Primavera para quê?
Malmequeres para quê?
Para a aceitação com perfumes
deste silêncio de fossa?
(...)
Num desespero vão
os olhos circundo
pela Natureza.
Ah! quando perderei a ilusão
de que a minha tristeza
dá sentido ao mundo?
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Agora que o silêncio é um mar sem ondas - Miguel Torga
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Café - José Gomes Ferreira
XII
(De repente, o café tornou-se cósmico.)
Vais perguntar outra vez porque existes?
Para quê? Para ficares com os olhos do tamanho de ilhas tristes?
Pois não sabes que já milhões como tu e como eu
pediram em vão às aves
que procurassem nas nuvens aquela Porta
de que nem a Morte tem as chaves?
E quem a abriu? Quem sabe que Porta é?
(Rapaz! Mais um café!)
(De repente, o café tornou-se cósmico.)
Vais perguntar outra vez porque existes?
Para quê? Para ficares com os olhos do tamanho de ilhas tristes?
Pois não sabes que já milhões como tu e como eu
pediram em vão às aves
que procurassem nas nuvens aquela Porta
de que nem a Morte tem as chaves?
E quem a abriu? Quem sabe que Porta é?
(Rapaz! Mais um café!)
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
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