sábado, 4 de abril de 2009

Poema de Domingo - Manuel da Fonseca

Quando chega domingo,
faço tenção de todas as coisas mais belas
que um homem pode fazer na vida.

Há quem vá para o pé das águas
deitar-​se na areia e não pensar…
E há os que vão para o campo
cheios de gran­des sen­ti­men­tos bucólicos
porque leram, de véspera, no bole­tim do jornal:
« Bom tempo para amanhã»…
Mas uma mai­o­ria sai para as ruas pedindo,
pois nesse dia
aque­les que pas­seiam com a mulher e os filhos
são mais gene­ro­sos.
Um rapaz que era pintor
não disse nada a ninguém
e esco­lheu o domingo para se matar.
Ainda hoje a família e os amigos
andam pen­sando porque seria.
Só não rela­ci­o­nam que se matou num domingo!
Mari­a­zi­nha Santos
(aquela que um dia se quis entre­gar,
que era o que a família dese­java,
para que o seu futuro ficasse resol­vido),
Mari­a­zi­nha Santos
quando chega domingo,
vai com uma amiga para o cinema.
Deixa que lhe apal­pem as coxas
e abafa os sus­pi­ros mor­dendo um len­ci­nho que sua mãe lhe bordou,
quando ela era ainda muito menina…
Para eu contar isto
é que conheço todas as horas que fazem um dia de domingo!
(...)