quarta-feira, 30 de junho de 2010

Alberto García Alix - VI

Billie Holiday - Strange Fruit

Para o meu velho Layton – Leonard Cohen

Oculta a sua dor sem dono
em frases de amor
da mesma maneira que um gato esconde as fezes
debaixo das pedras e aparece durante o dia
arrogante, limpo, rápido, disposto
a caçar ou dormir ou a perecer de fome.

A cidade recebe-o com lixo
que ele interpreta como um elogio
à sua musculatura. Cascas de laranja
latas tripas chovendo como papel de teletipo.
Durante algum tempo ele destruiu as suas noites
com a sua sombra reflectida na janela da lua cheia
enquanto espiava a paz da gente vulgar.

Uma vez invejou-os. Agora com um feliz
uivo saltava de monumento em monumento
penetrava nos seus lugares mais sagrados, ébrio
de saber quão perto vivia dos mortos
debaixo da terra, ébrio de sentir o quanto amava
os seus companheiros que ressonavam, os velhos e as crianças da cidade.

Até por fim cansado como Tímon
do odor humano, ressentindo-se mesmo das suas próprias
pegadas no deserto, dedicou-se a caçar animais, e adornou-se
com braceletes de serpentes vivas e ervas. Enquanto
a maré descia como uma manta, ele dormia em cavidades
das rochas, pesado, sem sonhos, a salgada-atmosfera brilhante
como se fosse um laboratório automático
formando cristais no seu cabelo.

JUST SAY NO TO FAMILY VALUES by Antonello Faretta


Director: Antonello Faretta
Poema: John Giorno

domingo, 27 de junho de 2010

Alberto García Alix - V

Cesária Évora - Angola

Vuvuzzzzzzzzzzzzzzzzela - nove modos de utilização

Lucia


Director:Cristóbal León Dooner
Poema: "Lucía", de Joaquín Cociña
2007

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Alberto García Alix - IV

The Raconteurs - Steady, As She Goes

Veneza aos gatos - Alexandre O’neill

Lisboa às moscas e Veneza aos gatos...
(os pombos da bondade só conspurcam
a praça de S. Marcos)
...ao gato perna alta que não vem quando o chamas,
ao contrário da patrícia mosca
que não era para aqui chamada,
mas logo te soprou os últimos zunzuns
mal chegaste a Lisboa

O gato de Veneza não te dá pretextos
para miares o que te vai na alma,
nem os sacros temores da miaulesca
esfinge rilkeana.
Não é um gato é um perfil de gato
Tapando a saída da calleta.

O gato veneziano é um gato sem regaços
e sem selvajaria.
De Veneza o gato é sempre muitos gatos
que vão à sua vida...

...como tu, afinal, não vais à tua.

(De Veneza a Lisboa, num zunido,
já trazias a mosca no ouvido...)

Major Alvega

domingo, 20 de junho de 2010

Alberto García Alix - III

Pluto - Convite

Joao César Monteiro - Circe

O Mágico Veneno - Luís de Camões

Um mover de olhos, brando e piedoso,
Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;

Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Uma pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;

Um encolhido ousar; uma brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento;

Esta foi a celeste formosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.


Museu Guggenheim rende-se à geração YouTube

No other medium is pushing the boundaries of creativity like video. YouTube Play, a collaboration between YouTube and the Guggenheim Museum, wants to recognize and showcase the most remarkable online videos from around the world. To have your work considered simply post it on YouTube and then submit it at youtube.com/play. A jury of experts will decide which works will be shown at the Solomon R. Guggenheim Museum in New York.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Alberto García Alix - II

Caetano Veloso - Tropicalia

Mike Stilkey - II





Um Adeus Português - Alexandre O'Neill

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Alberto García Alix

Zeca Afonso - Cantigas de Maio

Eyes wide shut - Stanley Kubrick (1999)



Šostakovič : Waltz 2 from Jazz Suite n. 2

Bolshoi Ballet: The Nutcracker

domingo, 6 de junho de 2010