quarta-feira, 30 de junho de 2010

Para o meu velho Layton – Leonard Cohen

Oculta a sua dor sem dono
em frases de amor
da mesma maneira que um gato esconde as fezes
debaixo das pedras e aparece durante o dia
arrogante, limpo, rápido, disposto
a caçar ou dormir ou a perecer de fome.

A cidade recebe-o com lixo
que ele interpreta como um elogio
à sua musculatura. Cascas de laranja
latas tripas chovendo como papel de teletipo.
Durante algum tempo ele destruiu as suas noites
com a sua sombra reflectida na janela da lua cheia
enquanto espiava a paz da gente vulgar.

Uma vez invejou-os. Agora com um feliz
uivo saltava de monumento em monumento
penetrava nos seus lugares mais sagrados, ébrio
de saber quão perto vivia dos mortos
debaixo da terra, ébrio de sentir o quanto amava
os seus companheiros que ressonavam, os velhos e as crianças da cidade.

Até por fim cansado como Tímon
do odor humano, ressentindo-se mesmo das suas próprias
pegadas no deserto, dedicou-se a caçar animais, e adornou-se
com braceletes de serpentes vivas e ervas. Enquanto
a maré descia como uma manta, ele dormia em cavidades
das rochas, pesado, sem sonhos, a salgada-atmosfera brilhante
como se fosse um laboratório automático
formando cristais no seu cabelo.